sexta-feira, 8 de março de 2013

Os Croods e a Caverna de Platão

Com estreia prevista para o mês de março de 2013, Os Croods – ou The Croods, no original – é o nome do próximo filme de animação da DreamWorks, estúdio responsável por O Príncipe do Egito, A Origem dos Guardiões, Madagascar, Kung Fu Panda, Shrek e muitos outros sucessos de bilheteria. Misto de comédia e aventura pré-histórica, Os Croods narra a viagem de descobertas de uma família pelo mundo, após a caverna onde ela sempre vivera ser destruída. Fora do abrigo que outrora os protegera e os privara do mundo externo, os personagens do filme vivem uma epopeia de descobertas e deslumbres. Viajando por cenários naturais espetaculares, eles conhecem um mundo inteiramente novo, repleto de cores, movimentos, sons, cheiros, criaturas fantásticas, perigos e maravilhas, numa mistura de experiências que mudará não apenas as suas vidas, mas também a de toda a humanidade por vir. Desse modo, o novo filme da DreamWorks flerta com a história real dos seres humanos, que, há milhares de anos, de fato se abrigavam em cavernas dispersas ao redor do mundo. Ao mesmo tempo, Os Croods estabelece paralelos com uma das mais conhecidas de todas as alegorias da história da filosofia: a Caverna de Platão, utilizada pelo pensador para explicar a situação humana com relação à verdade.
 O ateniense Platão, que viveu aproximadamente entre 428 a.C. e 348 a.C., foi autor de vários textos. Neles, o filósofo defendia que conceitos como justiça, beleza e bondade, dentre muitos outros, existiam num mundo constituído de ideias. Nesse mundo, tais conceitos se constituíam de uma realidade imutável e perfeita. Porém, Platão era pouco otimista com relação à possibilidade de as pessoas atingirem o mundo das ideias perfeitas. Sua conhecida alegoria da caverna ilustra muito bem seu ponto de vista com relação à ignorância das pessoas comuns. O filósofo convida seus alunos a imaginarem um muro bem alto separando uma caverna e o mundo exterior. Na entrada da caverna existe uma pequena fresta, pela qual passa um feixe de luz e sombras vindas do mundo exterior. No interior da caverna, vivem seres humanos que nasceram e cresceram ali, sem nunca terem saído do local – numa situação relativamente parecida com a dos personagens de Os Croods.
Na alegoria narrada por Platão, os habitantes da caverna permanecem de costas para a entrada, acorrentados, sem poder se mexer e forçados a contemplar constantemente as sombras que se projetam no fundo da caverna através da fresta da entrada. Tudo que essas pessoas conhecem da realidade, portanto, se resume a esse mundo de luz e sombras da realidade exterior. Os sons do mundo exterior também adentram a caverna, levando seus habitantes a acreditarem que tais sons são produzidos pelas sombras. Desse modo, os prisioneiros julgam que essas sombras sejam a realidade.
Certo dia, um dos prisioneiros consegue se libertar e contempla, abismado, que as sombras que ele sempre vira eram apenas representações simplórias de homens e animais de carne e osso. Empolgado, o antigo prisioneiro pode retornar ao interior da caverna para alertar seus companheiros sobre a farsa em que sempre viveram. Se fizer isso, no entanto, estará se colocando em sérios riscos. Ele pode ser ignorado por seus antigos colegas, ou até mesmo agarrado e morto por eles, que o tomarão por louco e inventor de mentiras. Platão considerava que era exatamente essa a situação dos seres humanos com relação à verdade. Tendo se acostumado a viver num mundo de enganos, as pessoas demonstravam grande resistência frente à verdade, chegando, em alguns casos, a matarem as pessoas que ousavam revelar-lhes o engano. Certamente, Os Croods, voltado para o público infantil, não chegará a esse ponto. Mas é de se esperar que o filme aborde o temor, o encantamento e a angústia do ser humano em sua busca por conhecimento fora da caverna.